4 mulheres contam como é viajar sozinha frequentemente

Até final do século passado era um tanto improvável se deparar com mulheres viajando sozinha. O machismo que permeia nossa cultura determinava mais vigorosamente como, para onde e com quem as mulheres viajavam.

Gradual e lentamente o mundo começou a se transformar ambiente menos ofensivo às mulheres, que começaram a viajar mais. E viajar sozinhas. Uma delas é a da escritora Cheryl Strayed, que decidiu se aventurar sozinha em uma trilha de mais de mil milhas pela costa do Oceano Pacífico. A jornada rendeu um livro e posteriormente o longa-metragem “Livre”, estrelado por Reese Whiterspoon.

Cheryl Strayed fez uma trilha com duração de 3 meses e virou inspiração para outras mulheres

Mas não é preciso tamanha aventura como a de Cheryl para que mulheres ainda passem por situações desagradáveis e constrangimentos em lugares desconhecidos quando sozinhas em viagens.  De acordo com um levantamento realizado pelo TripAdvisor, 67% das mulheres que viajam sozinhas escolhem o destino baseadas principalmente na segurança, contra 32% que priorizam as atrações turísticas. Segundo a pesquisa, os países considerados mais perigosos para mulheres são Índia, Turquia, Tailândia, Egito, Colômbia, África do Sul, Marrocos, México e Quênia.

Conheça aqui as histórias e percepções de quatro mulheres que viajam sozinhas com frequência. São relatos que servem de inspiração para que cada vez mais existam mochileiras e viajantes dispostas a arrumarem as malas e saírem para conhecer o mundo sem medo.

Sonia Denicol

A sommeliere Sonia Denicol viaja sozinha desde os 17 anos. Hoje, com 54, viaja a cada dois meses – a trabalho e a lazer. Quando possível, junta os dois. O trabalho autônomo torna possível mais flexibilidade em suas viagens, que considera um dos maiores prazeres da vida.

Na hora de escolher o destino, faz parte das 32% mais “corajosas”: prioriza as atrações do lugar que quer conhecer. Se chega em algum lugar que aparenta representar algum risco, repensa o que irá fazer e quais medidas tomar para que se sinta segura novamente.

De acordo com Sonia, informação, planejamento e postura são essenciais para viajar de forma segura. “É importante pesquisar tudo o que for possível sobre o lugar que se vai visitar, além dos pontos turísticos, como cultura, hábitos, regras locais, documentos necessários, transporte, deslocamentos, horários de funcionamento, moeda, idioma, clima e comida. Quanto mais informação a gente tiver, melhor fica o planejamento da viagem e mais a gente está no controle, minimizando a probabilidade de se colocar em situações inseguras ou de perigo”, afirma.

Certa vez, fazendo uma trilha em um domingo cedo numa cidade que foi visitar sozinha, percebeu a presença de um homem escondido nos arbustos do local a observando. Ao chegar na entrada de um túnel escuro, sentiu medo e resolveu ir embora. “Fui andando rápido e de olho em qualquer movimento do homem, que eu conseguia ver de longe”. Em sua mochila carregava um canivete, que decidiu segurar na mão caso precisasse usar. Quase fora da trilha, o homem saiu de trás dos arbustos com a calça abaixada e se tocando – o que fez Sonia deixar mais aparente o canivete e andar rápido até chegar em uma rua movimentada. “Voltei para o carro e fiquei lá sentada por alguns minutos, esperando minhas pernas pararem de tremer para poder dirigir. Foi um sufoco!”, conta.

Ficou receosa antes de viajar sozinha a Israel, que conta com a forte presença do fundamentalismo religioso de três religiões. Em cidades que conheceu, como Nazaré, boa parte das mulheres se vestem com véus e burcas. Por isso, a preocupação de Sônia era em relação ao que vestir. “Li bastante sobre a cultura local para saber como me comportar”, diz. Uma das orientações é, ao cruzar com algum judeu ortodoxo, não encará-lo nos olhos.

Sonia viajou também a outros destinos como Marrocos e México, mas acompanhada do ex marido. “Na companhia de um homem não tive problemas. É incrível como as pessoas ainda acham que só devem respeito a uma mulher por conta dela estar na presença de um outro homem, e não porque mereça por si mesma”, relata.

Fotografia feita por Sonia em uma de suas viagens “solo”

A sommeliere acredita que a segurança de mulheres sozinhas depende do grau de desevolvimento, cultura e práticas políticas e religiosas que determinam leis benéficas ou não para as mulheres do país visitado. Mas uma coisa é certa: a segurança verdadeira irá passar pela mudança de mentalidade e postura dos homens. “É deles que partem muitas das ações que nos provocam todo tipo de insegurança. Essa mudança começa pela educação e por uma mudança de cultura, por não alimentar posturas machistas, por educar os meninos para a igualdade e para o respeito.”

Enquanto isso não acontece, a segurança ainda depende da postura da própria mulher, que deve ser firme, estabelecer limites claros e exigir leis que garantam condições seguras às mulheres em todo o mundo.

Apesar das entraves, Sonia conta que não há nada como viajar sozinha. “A gente se sente plena, livre e forte. Percebemos o quanto somos capazes de planejar a própria vida e ser bem sucedida em qualquer coisa que fazemos”. Acredita que um dos grandes receios das mulheres é de ficar sozinha durante a viagem e não ter com quem conversar e compartilhar as experiências. “Acontece o contrário, estar sozinha dá abertura para conhecer novas pessoas, interagir e fazer novas amizades”.

Luciana Thomé

Luciana adora um bar com balcão para sentar, pedir um drink e relaxar – sozinha ou acompanhada. Certa vez, em uma viagem, ouviu uma recomendação de um bom bar perto de seu hotel e resolveu conhecer. “Estava ali, me divertindo sozinha, quando percebi que as mulheres que chegavam no lugar me olhavam e cochichavam, sem nem disfarçar”, conta. O motivo: Luciana estava sozinha e era a única mulher sentada no balcão de um bar cheio de homens. O barman comentou “Você não é daqui, aqui as mulheres não costumam sentar no balcão”.

Ao analisar o caso, chegou à conclusão de que muitas vezes as próprias mulheres são preconceituosas por causa dos pressupostos de uma cultura sexista. “É quase uma prisão com falsa sensação de liberdade”, diz.

Luciana viaja todo mês a trabalho e acredita que as mulheres, por viajarem mais sozinhas, estão mais espertas e seguras. “Não acho que a sensação de segurança é maior. O que aumentou, na minha opinião, foi a coragem”, afirma.

Além da pesquisa de informações sobre o local, também recomenda a aproximação, se possível, a outras mulheres viajantes para garantir a segurança . “Isso me deu segurança em muitos momentos”, afirma. Desde dividir um táxi até fazer algum passeio, a união proporcionou situações mais confortáveis em lugares desconhecidos.

Afirma acreditar que a velocidade das informações e a abertura para discussões sobre temas como a violência contra a mulher tendem a ajudar a situação. “Enquanto isso, vou continuar indo em bares com balcão por aí…”, finaliza.

Para ela, viajar sozinha é uma oportunidade de valorizar a individualidade e uma experiência que agrega autoconfiança, independência e autonomia. Recomenda a todas.

Alexandra Zottis

Para Alexandra Zottis, viajar é essencial. “Em alguns momentos, me bate uma angústia e tenho que viajar”, declara. Coordenadora do Curso de Turismo da Universidade Feevale, viaja a trabalho sozinha com frequência, mas também é adepta de viagens a lazer sem companhia. O que importa, diz, é viajar, descobrir, se libertar e voltar renovada.

Em viagens, nunca passou por alguma situação em que se sentiu insegura ou mal por estar sozinha e ser mulher. “Ou talvez porque viajar sozinha seja tão natural pra mim que nem percebi”, diz. Ainda assim, garante que toma todas as preucações indispensáveis a todos. Entre elas, cita escolher meio de hospedagem bem localizado e sempre respeitar as leis, regras e costumes locais, além de se atentar às recomendações dos prestadores de serviços quanto as áreas perigosas.

Alexandra afirma que o ambiente para viajar sozinha nos dias de hoje é favorável. “Já viajei para a Colômbia, México e Marrocos (países considerados perigosos para mulheres) e voltaria sozinha sem hesitar um segundo sequer. Amei esses destinos e aprendi muito. A minha mais recente viagem internacional, aliás, foi para o Marrocos. Pesquisei bastante para me planejar e encontrei todo o tipo de relato, desde aqueles que recomendam às mulheres não sair de casa, às corajosas que não enfrentaram problema algum, onde me encaixo. Passei por várias cidades marroquinas e em nenhum momento enfrentei dificuldade por estar desacompanhada”, conta.

Sobre os benefícios da viagem “solo”, é categórica: o importante é viajar, sozinha ou não. Só, entretanto, é possível maior autonomia nas escolhas. Em uma viagem, certa vez, o grupo que a acompanhava defendia que todos comessem no McDonalds por este servir comida conhecida e pelo receio de passar mal com as opções alimentares do país visitado. “Se é pra comer sempre a mesma comida, eu nem saio de casa”, afirma.

Ivane Fávero

Por fim, temos o relato de Ivane Fávero, responsável pelo blog Viajante Maduro. Apesar de na maioria das viagens a lazer estar acompanhada pelo outro “maduro”, seu marido Rômulo, Ivane viaja semanalmente a trabalho para realizar consultorias de Turismo.

Ivane ama viajar. E faz tempo: começou a desenvolver esse hábito regularmente há cerca de 30 anos. Por isso, foi capaz de observar mudanças significativas na recepção às mulheres que viajam sozinha. “Muitas vezes chego para almoçar num restaurante de estrada, onde só estão homens, e vejo que, apesar de repararem, sempre me respeitam.Também em hotéis ocupados por ‘viajantes’, em geral homens, sinto o mesmo. Realmente, já me sinto confortável em viajar sozinha no Brasil e em países da América do Sul e da Europa.”

Ivane conta que conta que a Itália, por exemplo, era muito machista há 20 anos atrás. Sentiu desrespeitada em algumas viagens ao país, mas atualmente, a situação melhorou. “Por sorte, a globalização da comunicação modificou isso e hoje me sinto muito bem”, afirma.

Em uma viagem para uma cidade com turismo de pesca, onde foi ministrar um curso, foi onde passou por sua pior experiência enquanto mulher sozinha em um cidade desconhecida. “A cidade toda estava ocupada por homens e eu mal saia do quarto do hotel e já ouvia comentários desairosos”, conta. Também não pôde sair para jantar fora e tinha de ficar “trancada” dentro do quarto. Mas Ivane garante que a situação foi exceção entre suas viagens.

Mesmo com as mudanças no mundo, quando a lazer, prioriza destinos considerados seguros, já que o objetivo é descansar e não passar por situações de estresse.

Como as outras, Ivane considera o planejamento da viagem essencial para que esta seja tranquila. Deixa os hotéis reservados, verifica o percurso, revisa a mecânica do carro e também prepara um “kit sobrevivência” com água, lanchinhos naturais, toalhinhas higiênicas e o indispensável para uma boa road trip: a trilha sonora.

Para a turismóloga, viajar sozinha é oportunidade de desenvolver introspecção, autoconhecimento e fortalecimento. “A cada viagem, volto me conhecendo mais e me sinto mais independente, preparada para a vida e fortalecida. Ao mesmo tempo, também mais leve e disposta a aceitar as coisas que acontecem”, relata.

Como já citamos na matéria sobre medo de avião, o importante é não deixar de viajar e aprender com as dificuldades e ensinamentos proporcionados pela viagem. Superação de medos, reivindicação de direitos e novas conquistas estão por vir cada dia mais na vida das mulheres de todo o mundo. Isso em casa ou do outro lado do globo, de mochila e sozinha… afinal, lugar de mulher é aonde ela quiser.

Ivane em Nova Olinda, no Ceará
Importante:

O Viajante Maduro viaja como ideal de vida e profissão.

A matéria foi redigida pela jornalista Júlia Beatriz de Freitas.

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