Depois de Cafayate, seguimos para a região conhecida como Quebrada de Humahuaca, que abriga diversas cidades do norte argentino rodeadas por novamente, paisagens de montanhas espetaculares. Cidades pequenas, mas grandiosas em cultura e acolhimento e modos de viver. Aqui, reunimos três cidades para você incluir no seu roteiro pela Argentina.
No caminho até a região, demos duas caronas! A primeira para um trio de jovens muito simpáticos que realizavam sua primeira viagem juntos. Criamos uma boa conexão com o grupo de amigos, que afirmava esta ser a melhor viagem de suas vidas. Também demos carona a um casal viajante de malabaristas. Ela, argentina e ele, uruguaio. Disseram que nunca se sentiram em perigo na região, que classificaram como segura.
Enfim, chegamos na Quebrada de Humahuaca, vale na província de Jujuy, na região Norte da Argentina. O vale é considerado Patrimônio Natural e Cultural da Humanidade pela Unesco.
Purmamarca
A primeira parada: Purmamarca, cidade pequenina onde as principais atrações são o Cerro de Los Siete Colores e o Paseo de Los Colorados. Visitamos o primeiro, atração que dá uma ‘palhinha’ das paisagens espetaculares que visitaremos durante a visita. Mas o ponto forte da cidade mesmo é a feira de artesanato, com alta movimentação e produtos muito baratos.
O Paseo de Los Colorados exigia uma caminhada de 3 quilômetros que resolvemos não encarar. Já estávamos respirando com dificuldade a cada passo por conta da altitude. Pra quem não sabe, a altitude causa dificuldade de locomoção, além de possíveis mal-estares como enjoos e dores de cabeça: o famoso ‘soroche’. Dicas para aguentar a mudança de altitude? Folhas de coca!
Tilcara
Em seguida, fomos para Tilcara, uma cidade pequena, porém com movimento turístico um tanto intenso por conta de seus sítios arqueológicos e paisagens deslumbrantes.
As cidades do Norte Argentino são muito diferentes de regiões metropolitanas do país, como Buenos Aires. A cultura e a população são descendentes de etnias indígenas da região andina, lembrando muito lugares do Peru e no Chile.
Embora com pouca estrutura e porte simples, a internet funciona muito bem em todas as áreas da cidade, algo extremamente importante para nossa viagem. Os hotéis e os restaurantes são excelentes também. Em Tilcara, jantamos nos restaurantes El Nuevo Progreso e Arumi Restaurante, ótimos lugares com excelentes opções vegetarianas disponíveis. Experimentamos uma lasanha de berinjela com vegetais e cogumelos e uma deliciosa sopa de abóbora com queijo. Tudo isso por um preço acessível. Vale ressaltar que, apesar de ser comum o consumo de lhama pelos argentinos da região, a maior parte dos pratos são à base de vegetais, o que facilita a viagem ao local para os vegetarianos.
Ao chegarmos em Tilcara, passamos por um pequeno perrengue. Eu, por engano, me confundi com as datas e cheguei um dia antes ao hotel que reservamos, que estava lotado quando chegamos e fomos surpreendidos pela informação. Assim, reservamos um aposento pelo Booking no hotel Alas del Alma, lugar simples, mas espaçoso e aconchegante que nos ofereceu um quarto com dois pisos, onde ficamos até o dia seguinte, quando fomos ao nosso ‘primeiro’ hotel escolhido, o Patio Alto.
Em Tilcara, visitamos Pucará de Tilcará, conhecido sítio arqueológico da área. Montanhas coloridas e cactos enormes montam o cenário de beleza das ruínas, que conta com certas excentricidades. Uma delas é uma pirâmide construída em 1935 em homenagem aos arqueólogos que trabalharam no sítio arqueológico. O monumento acabou por descaracterizar uma praça e outros locais originais do povoado pré-colombiano que habitou a região dos Andes desde o primeiro milênio d.C.
O assentamento arqueológico foi instalado por seus habitantes pré-colombianos em um ponto estratégico, onde cruza diferentes regiões do noroeste. As ruínas foram descobertas pelo etnógrafo Juan Bautista Ambrosetti, que começou com a obra de recuperação do lugar no ano de 1908. A área arqueológica tem uma extensão de 15 hectares divididos em setores como moradias, centro cerimonial, cemitério e comércio.
Ainda no mesmo passeio, é possível conhecer o Jardín Botanico de Altura, com belos exemplares de cactos nativos e uma linda vista.
Após irmos à cidade de Humauaca, que falamos no item abaixo, voltamos à Tilcara, onde fomos procurar a conceituada vinícola Bodega Fernando Dupont – uma empreitada sem sucesso. Ficamos sabendo que para chegar ao local é necessário atravessar um rio seco, o que nos impedia de ir de carro. Em seguida, também descobrimos que a vinícola estava fechada.
Recebemos, então, a indicação de uma pequena vinícola familiar que com certeza nos deixou uma lição e experiência valorosa. A Bodega Nomino del Chicapa não tem uma fachada atrativa: uma simples plaqueta sinaliza a palavra “bodega” em frente à uma casa de barro. Entramos e fomos surpreendidos pelo lugar tão aconchegante e despretencioso. Nos deparamos com um jardim maravilhoso com estufa de flores, e uma estrutura de vinícola pequena, mas com uma bela história de uma família atenciosa e gentil. O local tem apenas três barricas e produz cerca de mil garrafas por ano. Fomos embora agradecidos e confiantes de que o enoturismo que buscamos é este: que conta histórias significativas, une pessoas e transforma o mundo através dessa bebida milenar. Saímos de lá também com uma garrafa, que com certeza será um dos grandes vinhos desta viagem.
Em nossa última noite na região, assistimos a uma apresentação de teatro com artistas locais em uma rua central da cidade, que já foi palco de mais de mil peças de teatro de rua. A que assistimos contou a história da morte do general Juan Lavalle, um militar argentino que foi governador de Buenos Aires entre 1828 e 1829.
Humahuaca
Na cidade de Humahuaca, o passeio mais recomendado é a visita ao Mirador de Hornocal, a cerca de 25km da cidade. Para nós, é passeio imperdível, um dos mais belos da quebrada; em nossa opinião, o melhor de todos!
Apesar do trajeto ser intimidador, visto que no caminho só vimos caminhonetes, tudo vale a pena ao chegar lá, no alto. A vista da cadeia de montanhas, onde cada cor delas (verdes, azuis, vermelhas) significavam fato histórico da formação geológica do lugar (presença de rios, etc), é indescritível. Restos de sedimentos de rios, lagos e mares, tudo isso remexido por movimentos tectônicos, se transformou em uma paisagem colorida de montanhas majestosas.
Ao voltarmos do passeio, acontecia uma festa anual que era em homenagem à padroeira Nossa Senhora da Candelária, o dia que ‘baja la virgen’. É o dia em que a imagem de Nossa Senhora é tirada do altar e ‘aproximada’ do povo, percorrendo todas as comunidades até o dia da santa, em fevereiro. Chegamos bem na hora do início das festividades e fomos surpreendidos pelo belo sincretismo religioso expresso pela dança, música, oração, e devoção extrema.
Nos impressionou o clima compartilhado pelos moradores da cidade – de festividade, irmandade e acolhimento. Todas as pessoas que pedíamos informações fizeram questão de nos acompanhar até o local que buscávamos. Um deles foi o músico e prestativo guia José, que nos informou que aprendia português na internet para receber turistas brasileiros, cada vez mais numerosos na região.
Em dada ocasião, voltávamos do restaurante onde jantamos com o uma garrafa de vinho que sobrara da refeição, quando um artesão, chamado Ezequiel, nos avistou e avisou: “troco artesanias por trago!”. Rômulo logo deu a garrafa para ele, que fez questão de me dar em troca uma linda pulseira feita por ele mesmo.
Observação: Todas as cidades que visitamos são muito ‘musicais’, com as danças e shows de músicos profissionais e amadores em restaurantes e lugares públicos. São povo acolhedor e expressam sua alegria através da música de forma única e inesquecível.
Em Humahuaca, comemos na rua a ‘tarta’, uma massinha lembra massa de pizza, dobrada e recheada com tomate e queijo, assada em cima de uma grelha com tonel de brasa embaixo, muito saborosa e que custou cerca de 4 reais cada.
Por fim, aprendemos sobre as facetas de um povo argentino diferente da população metropolitana do país. Percebemos que, o povo que vive cercado de montanhas tão magníficas, são tão encantadores quanto as paisagens da região. Partiremos para nosso próximo destino com ótimas lembranças do Norte Argentino.
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O Viajante Maduro viaja como ideal de vida e profissão.
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