Bra, esta pequena cidade do Piemonte (em torno de 28 mil habitantes) foi incluída em nosso roteiro por ser o berço do movimento Slow Food. Aqui vive Carlo Petrini, idealizador deste movimento que busca um mundo melhor, por meio do alimento bom, justo e limpo.
Como havia criado, em 2013, o Convivium Slow Food Primeira Colônia Italiana, em Garibaldi e região, e há muito tempo pesquisava sobre o assunto, esta cidade sempre esteve em meu sonho de destino.
Quando já tinha tomado a decisão de um dia visitar esta cidade, fui surpreendida pelo Globo Repórter de maio de 2016, que apresentou Bra e sua cultura enogastronômica. O programa só reforçou meu desejo de ir até lá e entender a gênese que deu origem ao movimento era minha motivação. O Rômulo entendeu e apoiou a escolha.
Bra se localiza entre Langhe e Roero, região reconhecida pela boa comida e excelentes vinhos. As salsichas de Bra são famosas no mundo. São feitas de vitelo e devem ser comidas cruas (o que não aprecio, definitivamente, mas, para os apreciadores, é prato cheio). Essas mesmas salsichas foram defendidas pelo Rei de Savoia, quando a proibição de elaborar embutidos foi imposta na Itália. Bra foi a exceção. E os queijos? Ah, os queijos! Os deliciosos Bra Dop, seja ele mais fresco ou duro, que motiva a celebração, junto aos queijos do mundo, do Slow Cheese. E todo o incentivo aos hortifrúti, tão bem implantados nesta região. Amamos os pães, as pizzas, as massas, os doces, tudo!
Aí passamos a entender o que motivou, em 1986, Carlo Petrini a criar o Slow Food. O movimento que se contrapõem ao Fast Food, mas que foi muito além. Entendeu que a escolha do alimento que comemos é uma decisão política e que, por meio desta escolha podemos mudar o mundo. A defesa pelo alimento bom, justo e limpo é a síntese do movimento.
Chegamos numa noite e precisávamos ligar para nosso anfitrião AIRBNB, o Chicco. No entanto, estávamos sem telefone e não tínhamos como chamá-lo. Fomos ao endereço e encontramos um grupo de jovens conversando e fumando em frente a um bar. Pedimos se eles conheciam o Chicco e logo um deles ofereceu seu celular para ligarmos. Hospitalidade é isso! Não está planejada, não está protocolizada, vem do bem viver local que é transferido aos que chegam. Por isso, sempre gostamos de destinos não massificados.
Bem, com a ligação feita, logo chegou a namorada de nosso anfitrião e nos acomodamos no mais lindo apartamento que ficamos. Super acolhedor e, para nossa surpresa, no mesmo ‘cortile’ em que vive Carlo Petrini! Bem, se era para sentir a gênese do Slow Food, estávamos no lugar certo!
Nesta noite, cansados da viagem, tomamos um banho e fomos ao restaurante que se localizava logo em frente ao apartamento, o Antico Caffè Boglione.
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Com o atendimento informal, os habitantes locais, já nos sentimos mais em casa. As frases e as fotos colocadas na paredes e balcões nos chamaram a atenção.
La storia ci ha costruito e impresso un carattere: una fierezza per le radici, da sempre cosmopolite. Non sei braidese se non ami Bra, ma non sei braidese se non ami il mondo. Toccare tutto, conoscere tutti, incuriosirsi per tutto, ma poi avere sempre voglia di tornare al caldo. Fra i tepori di una biblioteca di casa o di una boiserie del bar vicino a casa. Un posto dove accogliere e ospitare tutti coloro che si sono conosciuti in viaggio.
No dia seguinte acordamos e percebemos que faziam 4° negativos. Não nos intimidamos e saímos para visitar a cidade. Caminhamos pelas suas ruas bem organizadas, pelas inúmeras igrejas desta pequena cidade, conversamos com os habitantes locais. Sem pressa, vivendo o lugar.
No segundo dia fomos jantar na Osteria que deu origem ao Slow Food, a Boccondivino. Sendo inverno, o pátio não estava com as mesas, assim jantamos no interior do restaurante. Escolhi um tortelini recheado de abóbora, com manteiga e sálvia.
Posso afirmar que foi a melhor comida da Itália. A suavidade deste recheio, a consistência da massa… inesquecível! Ah, não fotografei, infelizmente não levei a máquina fotográfica nesta noite.
Voltaria lá só para comer novamente nesse lugar e provar os outros pratos que me deixaram com água na boca.
La cooperativa i Tarocchi inaugura nel 1984 l’Osteria del Boccondivino con una generazione di cuochi che caratterizzerà in maniera inconfondibile i piatti di questo locale ancorati alla tradizione di Langa e Roero.
Nesta cidade tivemos nossa primeira experiência com as famosas máquinas de lavar a roupa num self service. Sim, se fazia necessário uma lavagem, já que tínhamos poucas opções de roupas. Foi divertido nos sentirmos nos filmes americanos (já percebeu quantos tem a famosa cena da lavanderia?).
Bacana mesmo foi perceber que os locais deixavam suas roupas lá, lavando ou secando, e saiam para só mais tarde voltar para pegá-las. Segurança que gera confiança é isso. Fizemos o mesmo e aproveitamos para dar mais uma caminhada e comprarmos algumas coisas no supermercado local. Aliás, invejamos os mercados da Itália.
Também aproveitamos para comprar alguns doces, que seriam a sobremesa de nosso último jantar por aqui, no Caffé Posta, localizado na mesma rua onde estávamos hospedados. Fantásticos! Assim é Bra, cheia de aromas e sabores inesquecíveis!
Uma das surpresas que tivemos foi uma destas descobertas que temos quando somos viajantes sem tudo programado. Viajantes livres, viajantes maduros! Caminhando pela cidade, resolvendo algumas coisas, como comprar uma carga de internet, agendar a manicure, descobrir onde há uma lavanderia, percebemos que já eram 13h e estávamos com fome. Paramos no primeiro lugar que vimos, a 480º Gradi Pizzeria.
“Fatte ‘na pizza c’a pummarola ‘ncoppa vedrai che il mondo poi ti sorriderà.
Fatte ‘na pizza e crescerai più forte nessuno, nessuno più ti fermerà. Fatte ‘na pizza, lievete ‘o sfizio”.
Pino Daniele
Ambiente agradável, onde vários autóctones almoçavam no intervalo do trabalho, sem abdicar da taça de vinho. Pedimos a mais simples das pizzas do cardápio repleto de opções: a margherita. Foi surpreendente! A massa estava perfeita, o molho saboroso, o queijo delicioso! A melhor pizza que comemos nesta viagem.
Aqui aproveitamos para saborear, aprender, comprar para comer em casa… E adoramos o sistema de chá. Infelizmente, não anotei o nome do local, que fica próximo ao Slow Food (se alguém souber, avise). Foram simpaticíssimos, nos prestando diversas informações.
Aqui também resolvi fazer a manicure, a primeira experiência na Europa. O custo é mais salgado que no Brasil, EU16,00, e posso afirmar que as nossas são infinitamente melhores. Bem, mas a experiência foi válida!
Nos chamou atenção a qualidade de vida deste lugar, também expressa pelo tratamento dado aos cachorros. Na maior parte dos bares e restaurantes é permitida a entrada deles e nas ruas há torneiras para eles poderem beber água.
A hospitalidade e cordialidade da população será uma marca que Bra nos deixará. Pudemos vivenciar uma verdadeira cidade italiana, com seus moradores, seu jeito de viver. O turismo aqui é brando e se mistura à cidade, sem tirar dela a autenticidade que tanto procuramos como turistas conscientes.
Aproveitamos os dias nesta autêntica região e fomos conhecer outras cidades. Mas isso vai ser assunto do próximo post. Até breve!
“A política mais importante passa pela comida.”
Carlo Petrini, fundador do Slow Food.
ONDE FICAR E COMER:
Hospedagem AIRBNB do Chicco – Via Cavour, 11, Bra CN, Itália
Osteria del Boccondivino – http://www.boccondivinoslow.it/
Caffè Posta – Via Cavour, 28, 12042 Bra CN, Itália
Antico Caffé Boglione – http://www.caffeboglione.it/
480º Gradi Pizzeria – http://480gradi.it/it/pizzeria-bra/
PARA SABER MAIS:
http://www.turismoinbra.it/enogastronomia/
https://www.facebook.com/slowfoodprimeiracolonia/
https://it.wikipedia.org/wiki/Bra
CONHEÇA NOSSA HISTÓRIA:
No início de 2017 nos permitimos vivenciar uma experiência por 4 países da Europa. Veja post aqui e conheça nossa história.
Em janeiro passamos 16 dias aproveitando o Norte da Itália. Iniciamos por Milão, passando por Verona, Valpolicella, Conegliano, Padova, Bolonha, várias cidades da Toscana, Gênova, Bra e outras cidades do Piemonte, finalizando em Milão, novamente.
IMPORTANTE:
A viagem (Europe Trip) do Viajante Maduro (Itália, França e Espanha) não tem qualquer patrocínio, nem conflito de interesse. A opinião aqui expressa é a nossa verdade! A autoria das fotos é de Ivane Fávero.
“Imagine tomar um galão de cinco litros de veneno a cada ano. É o que os brasileiros consomem de agrotóxico anualmente, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA)”.
Temos que mudar! Juntos, pelo alimento bom, justo e limpo! Una-se ao movimento Slow Food Primeira Colônia Italiana, Slow Food Brasil, Slow Food International!