O coração acelera, as mãos suam e a mente se agita ao subir em uma aeronave. Mesmo que, à primeira vista, seja irracional, o medo de viajar de avião é mais comum do que se imagina. De acordo com a organização “Voar Sem Medo”, atinge 20 a 40% da população adulta. A estimativa inclui desde pessoas ligeiramente tensas ao entrar em uma aeronave até quem possui temor paralisante e que acarreta na total incapacidade de viajar, este último classificado como fobia.
Ao mesmo tempo, a necessidade de amenizar os males dessa condição em um mundo de pessoas que cada vez mais querem viajar e conhecer outros lugares é grande. Para viajar internacionalmente ou até mesmo pelo Brasil, país tão grande, o meio mais fácil e prático (e nos últimos anos, até mais barato) ainda é o avião. O medo de voar, então, também pode significar em impactos negativos na vida pessoal e profissional do afetado.
Técnicas de relaxamento e diferentes formas de se preparar para a ocasião têm valor inestimável nessas situações. Por isso, aqui reunimos alguns relatos e dicas de quem sofre com essa limitação.
Rodrigo Andrade* é um dos que sofrem desse mal, que considera “injustificável”. “Não sei o que é, não tenho claustrofobia e também sei que o avião é o meio mais seguro que existe”, conta. Mas é só entrar em um avião que o mal estar começa.
Na primeira vez em uma aeronave, há mais de 20 anos, chegou a vomitar três vezes em um vôo com duas escalas. Hoje, os sintomas são outros: além do nervosismo, sente formigamento nas mãos, nos dedos e nos lábios. Rodrigo conta que foi uma das piores experiências de sua vida quando em uma viagem o formigamento atingiu as pernas. “Uma sensação de impotência angustiadora, muito ruim”, classifica.
As viagens de avião são evitadas ao máximo, o que afeta sua vida familiar e profissional. Por trabalhar na área vinícola, viajar também é necessário para participar de feiras e eventos inter e nacionalmente. Já chegou a percorrer mais de 1.400 quilômetros de carro a fim de evitar o avião. “O problema é que perde muito tempo, então fica bem difícil”, ressalta.
Atualmente, Rodrigo limita suas viagens de avião a uma por ano. No dia, leva um “kit” composto de Dramin, balas e chicletes. Horas antes da viagem, toma um comprimido de Dramin para acalmar e fica em jejum para evitar a ânsia. Se o vôo é longo, a cada três horas toma um novo comprimido. Mas o maior remédio, conta, é a própria respiração. “Na hora da decolagem, respirar profundamente ajuda e durante o percurso, rezo”. No momento do pouso, a visão da janela o ajuda a acalmar e terminar a viagem tranquilo. “A chave é se concentrar na respiração”, conclui.
Travis Bowman tem sintomas diferentes de Rodrigo. Não sente tontura, nem formigamento no corpo, mas sua mente ser agita de modo que beira o insuportável diante da impossibilidade de abrir a janela ou sair da aeronave.
Não classifica como fobia, mas garante que viajar de avião é uma experiência bastante desagradável. “Eu sempre penso no pior que pode acontecer com a aeronave e isso me causa grande estresse”, conta. Diferentemente de Rodrigo, o medo de Travis varia de acordo com a viagem e seu estado mental no momento. Algumas vezes, viaja relativamente bem e em outras, se apavora com o ambiente fechado do avião.
Treme ao entrar em um avião desde criança, quando tinha de viajar de um extremo ao outro da Austrália para ver seus pais, divorciados desde seus dez anos de idade.
Mas, para Travis, que precisa viajar ao menos duas vezes por ano à trabalho, deixar de viajar não é uma opção. “No fim das contas, tenho lugares para ir e coisas para fazer, então preciso encarar e ir”, conta.
Por isso, antes da viagem, Travis faz um exercício mental que consiste em se lembrar da segurança proporcionada pela aeronave. “Tento relaxar lembrando que o piloto e sua equipe checaram tudo o que deveria ser checado e que o avião custa milhares de dólares, então não vai simplesmente cair do céu. É algo da mente que tem de ser superado”, afirma.
O casal responsável pelo blog “Viajante Maduro” viaja tranquilo. Ainda assim, Ivane conta que apesar de não sentir medo, há certa tensão. Para se acalmar ouve a música “Concorde”, de Frank Pourcel, mesmo que mentalmente. Já Rômulo afirma que o nervosismo só chega nas turbulências. “Oro e peço perdão pelos pecados”, brinca. O importante é não deixar de viajar.
Como vimos, os sintomas variam e o medo é diferente em cada pessoa. Ainda assim, dicas gerais são valiosas para qualquer um que ainda hesite em viajar pelo medo de avião. Segue mais algumas:
- Se prepare antes de viagem: Não deixe nada pra cima da hora (inclusive chegar ao aeroporto) para não aumentar a ansiedade. Vista roupas confortáveis e garanta que sua bagagem de mão não seja um “stress” a mais.
- Mantenha-se hidratado e evite cafeína: O corpo obedece mais à mente quando devidamente hidratado, já a mente ajuda a controlar o corpo quando menos agitada (e cafeinada).
- Tente se distrair: Leve um livro interessante ou aproveite as novas tecnologias oferecidas pelas companhias de avião: filmes, jogos – o que servir de abstração da situação incômoda vai ajudar.
- Por fim, busque entender sobre o avião. Se necessário, leia sobre turbulências e mesmo sobre a mecânica da aeronave antes do voo. Assim, irá se sentir mais seguro ao saber da segurança proporcionada por esse meio de transporte.
* Nome fictício a pedido da fonte.
Importante:
O Viajante Maduro viaja como ideal de vida e profissão.
A matéria foi redigida pela jornalista Júlia Beatriz de Freitas.
As fotos são do Unsplash.
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