“A beleza salvará o mundo!” a célebre frase de Dostoiewski é a que me veio à mente assim que vi este lugar e, agora que escrevo o texto de apresentação, num momento em que o Brasil vive uma delicada situação, a mesma é reforçada.
Visitei o lugar, juntamente com o grupo que estava em visita aos territórios del Cesanese e de Latina, onde nossos amigos dos conviviuns Slow Food de mesmo nome atuam e nos receberam para apresentar as propostas de desenvolvimento de um mundo mais limpo e justo. Fui com um grupo de 12 pessoas do Convivium Slow Food Primeira Colônia Italiana, do qual sou fundadora. Aqui a condução foi do Convivium de Latina, a quem agradeço!
Não cheguei a pesquisar sobre todos os lugares que visitaríamos, pois esta viagem ocorreu em um período de muito trabalho (que bom) e não tive tempo para isso. Mas até que foi bom, pois a surpresa que tive ao adentrar os muros e portões do Giardino di Ninfa foi memorável! Um dos mais lindos lugares que já vi em minha vida se descortinou assim que entramos, conduzidos por uma excelente guia.
O jardim está localizado no território do município de Ciesterna di Latina, a 85 km de Roma, e se estende por uma área de 105 hectares. É um ‘típico jardim inglês’ construído na desaparecida cidade medieval de Ninfa, da qual ainda podem se observar ruínas, sendo que algumas foram preservadas e outras conservam a aura deste jardim perdido no tempo e no espaço.
O Giardino di Ninfa (Jardim da Ninfa) foi declarado Monumento Natural pela Região do Lazio, Itália, no ano de 2000, devido à sua beleza e riqueza natural. O ‘tombamento’ visa proteger o jardim histórico da fama internacional e inclui, também, o Parque Natural Pantanello, inaugurado em 2009.
Aqui está Ninfa, aqui estão as fabulosas ruínas de uma cidade que, com suas muralhas, torres, igrejas, conventos e habitações, está parcialmente submersa no pântano, enterrada sob a grossa hera. Na verdade, esse lugar é mais bonito que o de Pompeia, cujas casas se erguem como múmias retiradas das cinzas vulcânicas.
Ferdinand Gregorovius
O nome Ninfa deriva de um pequeno templo da época romana, dedicado às Ninfas Naiadis, divindade das águas da nascente, construído perto do atual jardim. Mas sua história também está ligada à Igreja Católica, especialmente aos Papas. Sim, no século VII o imperador Constantino V Copronimo concede ao Papa Zacharias este fértil lugar.
Apesar de possuir poucos moradores, sua localização era estratégica, já que por aqui passava a Via Pedemontana, situada no sopé das Montanhas Lepini, única ligação de Roma para o Sul quando a Via Appia era coberta por pântanos.
Após o século XI Ninfa assume o papel de cidade e entre as várias famílias que governaram vale mencionar os Tusculum, também relacionados com a Roma papal, e o Frangipani, sob o qual a arquitetura a cidade floresceu e cresceu.
E segue a história da Igreja Católica com Ninfa, quando, em 1159, o Cardeal Rolando Bandinelli foi coroado Papa Alexandre III na Igreja de Santa Maria Maggiore. Em 1294 ele ascendeu ao papado. Bento Caetani, o Papa Bonifácio VIII, figura poderosa e ambiciosa, que em 1298 ajudou seu sobrinho Pedro II Caetani a comprar Ninfa e outras cidades vizinhas, marcando o início da presença da Caetani no território, o que duraria por sete séculos. Sim, neste período um Papa podia vender uma propriedade para seus parentes.
Pietro Caetani II ampliou o castelo na cidade, acrescentando a parede de cortina com os quatro fortes e levantando a torre, já presente, a 32 metros, e construiu o palácio baronial.
Em 1382, Ninfa foi destruída por Onorato Caetani, partidário do antipapa Clemente VII. A cidade não foi mais reconstruída, também por causa da malária que infestava a planície pontina, os cidadãos sobreviventes deixavam para trás os restos de uma cidade fantasma e rumaram para as montanhas. Até mesmo os Caetani se mudaram para Roma e outros lugares.
No século 16, o cardeal Nicolò III Caetani, um amante da botânica, queria criar um “jardim de suas delícias” em Ninfa. O trabalho foi confiado a Francesco da Volterra, que desenhou um hortus conclusus, um jardim cercado por muros com plantas regulares, bem ao lado da fortaleza medieval do Frangipane. Com a morte do cardeal, o lugar das delícias, onde foram cultivadas preciosas variedades de frutas cítricas, foi abandonado.
Uma nova tentativa de conclusão foi feita por outro membro da família Caetani, no século XVII, o Duque Francesco IV, que ‘bom no governo flor’, dedicou-se à ao renascimento do horto, mas a malária também obrigou-o a afastar-se de Ninfa . De seu trabalho permanecem as fontes de água e fontes.
Durante o século XIX, o encanto das suas ruínas atraiu muitos viajantes que visitavam aItália, redescobrindo Ninfa. A ‘Pompéia da Idade Média’, como descrito por Gregorovius, era um lugar assustador, memória mágica e indelével daqueles que o viram.
No final do século XIX, os Caetani retornaram às posses há muito abandonadas. Ada Wilbraham Bootle, esposa de Onoraro Caetani, com dois dos seis filhos, Gelásio e Roffredo, cuidou de Ninfa e decidiu criar um jardim de estilo anglo-saxão, romântico para o futuro.
Os pântanos foram drenados e foram extirpadas a maioria das plantas daninhas que cobriam as ruínas, plantaram as primeiras ciprestes, carvalhos, faias, e restauraram as ruínas, incluindo o palácio do Barão, que se tornou casa de campo da família, onde agora estão os escritórios da Fundação Roffredo Caetani.
A realização do jardim foi guiada sobretudo pela sensibilidade e pelo sentimento, seguindo uma direção livre, espontânea e informal, sem geometria estabelecida. Marguerite Chapin, esposa de Roffredo Caetani manteve o jardim cuidado com a introdução de novas espécies de arbustos e rosas, nos anos 1930, abrindo suas portas para um círculo importante de escritores e artistas relacionados às revistas fundadas por ela, “Commerce” e ” Botteghe Oscure “, como um local ideal para se inspirar.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a família Caetani se refugiou no castelo de Caetani Sermoneta, retornando a Ninfa somente após 1944. Durante a guerra o jardim foi usado como base para munição pelos soldados alemães, que preservaram a integridade do mesmo, graças às árvores presentes que favoreceram a possibilidade de camuflagem.
A última herdeira e jardineira foi Lelia, filha de Roffredo Caetani. Sensível e delicada, cuidava do jardim como uma grande pintura, combinando cores e apoiando o desenvolvimento natural das plantas, sem forçar, evitando o uso de substâncias poluentes. Ela acrescentou muitas magnólias, Prunus e rosas trepadeiras, e, com a mãe Marguerite, realizou um jardim de rocha, também chamado de ‘colar’. Lelia faleceu em 1977 mas, antes de sua morte, decidiu criar a Fundação Roffredo Caetani para proteger a memória da Casa Caetani e para preservar o Jardim de Ninfa e o Castelo de Sermoneta, qualificando o território Lepine.
Informações da Fundação Caetani. Saiba mais clicando aqui!
O Jardim da Ninfa também é conhecido como o “o jardim mais romântico do mundo”, mas o passeio só pode ser feito com um guia local e em determinados períodos do ano. Visitamos na Primavera!
A cada passo, mais e mais belezas se apresentavam. A alma acalma e se enleva!
Não há nada de mais belo do que distribuir a felicidade por muitas pessoas.
Ludwig van Beethoven
Como falamos, esta área pantanosa tem seu valor natural e, desde 1976, em uma extensão de 1.800 hectares, localizada ao redor do jardim, foi criado um oásis da WWF que visa proteger a fauna na área de Ninfa. A área está localizada na trajetória de uma das principais rotas migratórias atravessadas por aves que, vindas de países africanos, se deslocam para várias áreas da Europa.
Abaixo, o grupo de brasileiros, do Convivium Slow Food Primeira Colônia Italiana, sendo recebidos pelos amigos do Convivium Latina, Sara Guercio, Gianluca Giannini e Loreta Proia. Agradecemos! E eu, especialmente, agradeço por terem me apresentando um dos mais lindos lugares que já vi!
Importante:
O Viajante Maduro viaja como ideal de vida e profissão.
Esta visita só foi possível com o apoio do Convivium Slow Food Latina.
Mais informações sobre o Giardino di Ninfa: http://www.fondazionecaetani.org/giardini.php
A opinião aqui expressa é a nossa verdade! As fotos são de Ivane Fávero (as que apareço, de algum querido/a amigo/a).
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