Um Nordeste muito além do litoral. Descubra o Brejo Paraibano!

Um Nordeste sem praia. Um Nordeste de serra, de frio (zinho) e de verde exuberante. Assim é o Brejo Paraibano, especialmente a cidade de Areia, onde estive nesta viagem. Com patrimônio tombado pelo Patrimônio Nacional, localizada no topo da serra da Borborema, a 600 metros de altitude, Areia possui quase 30 mil habitantes e se situa há pouco mais de uma hora (de carro) de João Pessoa.

Centro Histórico de Areia.

A microrregião do Brejo Paraibano é uma das 23 microrregiões do pequenino estado brasileiro da Paraíba,  com população estimada pelo IBGE, em 2017, em 115.000 habitantes. Brejo, neste caso, não se refere à áreas pantanosas, mas sim às áreas altas do nordeste, que são mais úmidas, onde prevalece o verde. Sim, a região é um oásis no Agreste Paraibano, pois, após vários quilômetros de estrada ladeada por uma vegetação seca, chegamos ao verdejante Brejo.

Mapa dos ‘Caminhos do Brejo’ exposto na Pousada Villa Real.

A região está dividida em oito municípios. Só passei por Alagoa Grande, a terra do grande músico Jackson do Pandeiro. O pórtico de entrada impacta, mas a cidade não foi desvendada. Soube que tem um museu e realiza alguns eventos interessantes.

Voltando a Areia, onde permaneci por quase uma semana, cabe destacar que possui um conjunto histórico e urbanístico belíssimo, tombado em 2006 pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Mais de 400 casas fazem parte do acervo! Bom ver parte da história deste Brasil preservada.

A Cidade de Areia traz em si a marca da história! Viveu os grandes movimentos sociais do Brasil Colônia, do Império e da República Velha.

Centro Histórico de Areia.

Fui a Areia a trabalho (convite do Sebrae PB), para ministrar um curso de formação de Empreendedores em Visão Territorial Sustentável.  Claro que aproveitei para fazer turismo e, assim, poder compartilhar aqui algumas dicas do que fazer nesta encantadora região.

Centro Histórico de Areia.

A história de formação deste povoado começa ainda em 1648, com a expedição em busca de recursos minerais de Elias Herckman, então Governador holandês da Paraíba. Sim, os holandeses ocuparam o nordeste do Brasil e, especialmente, esta região. Bem, não encontraram minérios por aqui e partiram. Mais tarde, em meados do século XVII, é a vez de desbravadores portugueses chegarem a região. Pedro Bruxaxá teria sido o primeiro a se fixar no local “à margem do cruzamento de estradas que eram caminho obrigatório de boiadeiros e comboieiros dos sertões com destino à cidade de Mamanguape e à Capital”. Contam que fez amizade com os nativos e ali construiu um curral e uma hospedaria conhecida como “Pouso do Bruxaxá”, tão significativa que fez com a própria região fosse reconhecida como “Sertão de Bruxaxá”.

Com o tempo, entretanto, devido a um riacho que possuía bancos de areia muito brancas, o povoado passou a ser chamado de Brejo d’Areia, já que o lugarejo fica na Microrregião do Brejo Paraibano, região da Paraíba não muito longe do litoral, que recebe os úmidos ventos alísios vindos do Atlântico e possui uma cobertura vegetal de floresta atlântica, hoje em dia reduzida a manchas. Por isso, também chamada de Zona da Mata.

O povoado foi elevado à categoria de vila em 30 de agosto de 1818, e, em 18 de maio de 1846, tornou-se cidade. Na sua história, registros da produção de algodão e da cana-de-açúcar (até hoje); de participação em revoluções e revoltas e, triste história, de execuções na forca. Perca-se ouvindo e lendo as histórias deste município rico em cultura.

 

Centro Histórico de Areia.

Vou indicar alguns pontos que merecem ser destacados, pois precisam de um olhar mais atento devido à sua rica história, o que vai além do que os olhos podem captar.

 

Igreja do Rosário dos Pretos

Sua construção foi iniciativa de uma Irmandade originalmente composta ‘por gente de cor’, como afirmavam naquele tempo. É a mais antiga de Areia, ainda que não se tenha a data precisa de sua fundação. Ficou muito tempo inacabada, tento conseguido doação do governo provincial, em 1865 e 1872, para seguir com a obra.  Tudo indica que sua conclusão só se deu em 1886 quando ali foi realizada a primeira celebração religiosa. Localiza-se junto à Praça Ministro José Américo de Almeida.

Igreja do Rosário dos Pretos, Areia, PB.

 

Teatro Minerva

Conhecida como “Terra da Cultura”, foi em Areia que se construiu o primeiro teatro no estado da Paraíba, o Teatro Minerva, em meados do Séc. XIX, por nobres (e ricas) famílias locais. Conhecendo esta história, entendi o significado da denominação “Theatro Particular” gravada em seu frontão superior.  Já pela manhã, bem cedo, a população ocupava seus degraus à espera do transporte que os levaria aos seus trabalhos.

Inaugurado em 1859, com o nome de Teatro Recreio Dramático constituía o orgulho dos habitantes de Areia, em especial dos membros da Sociedade Recreio Dramático que o construiu às suas expensas, iniciativa pioneira que precedeu em trinta anos o teatro da Capital. Funcionava regularmente com representações dos conjuntos amadores locais.

Teatro Minerva, Areia, PB.
Ilustres Cidadãos

Seu cidadão mais ilustre é Pedro Américo, reconhecido e celebrado pintor do século XIX, famoso por pintar a obra “O Grito do Ipiranga”. Há um museu dedicado ao ilustre areiense, não pude visitá-lo, infelizmente. Mas fica a dica. Também são ilustres areienses o escritor José Américo de Almeida e o Padre Azevedo, “inventor da máquina de escrever”, conforme contam em Areia.

Foto: reprodução – Detalhe do quadro “Independência ou Morte”
A tela “Independência ou Morte” pintada por Pedro Américo foi encomendada por Pedro II ao artista e foi pintada em 1888 e está exposta no Museu Paulista.
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição

A igreja testemunhou o crescimento de Areia, mas também se viu mudando de estrutura, desde a palhoça, passando pela capela coberta de telha (1809) até sua construção em 1834. Em 1902 ainda passou por mais mudanças e ampliação.

 

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Areia, PB.

Na Sacristia há um nicho onde está a imagem de Nossa Senhora da Conceição de madeira policromada, em estilo barroco. A Igreja me encantou por suas pinturas e por perceber o quanto ainda é referência como templo de oração. No dia 08 de dezembro acontece a grande festa religiosa para celebrar o Dia da Padroeira do município.

Ao lado da Igreja localiza-se o tradicional Colégio Santa Rita.

Lateral da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Areia, PB.

Importante ressaltar que Areia recebeu a primeira Escola de Agronomia do Nordeste, atual campos II da UFPB, onde se pode visitar as instalações e a área botânica.

Mais informações, clique aqui.

 

A Hospitalidade

Apesar de alguns dificuldades infraestruturais e até mesmo se perceber ainda algum lixo pelas ruas, mesmo sabendo do esforço da prefeitura em manter limpa a cidade, afinal cultura não se muda de uma hora para outra, nos sentimos bem nesta cidade, pois a hospitalidade, a cordialidade da população e, até mesmo, a sensação de segurança superam as carências existentes.

Além disso, cabe ressaltar que visitar Areia e a região do Brejo Paraibano é viver uma experiência cultural autêntica. Nada aqui é ‘fake’ ou produzido para turista ver. Aproveite para caminhar pelas ruas, comer a deliciosa comida local (muita tapioca, por favor! A melhor que já comi!), vivenciar os eventos, ouvir histórias e descobrir mais sobre a formação do Brasil.

Centro Histórico de Areia.
O bar central e a parada matutina para o café. Centro Histórico de Areia.
Amei esta placa. Sutilezas e lindezas de uma cidade do interior.

Durante o curso me apresentaram este vídeo que exemplifica a hospitalidade desta região. Uma imersão na cultura deste povo, na verdade! Adorei e indico também: https://www.youtube.com/watch?v=szmuQo4sFtE

Assista e descubra o que é o Doce de Leite com Caroço!

 

Onde Ficar e Comer

Pude conhecer dois dos melhores hotéis da cidade. Ambos possuem excelentes restaurantes.

Fiquei hospedada no Hotel Fazenda Triunfo, um hotel lindo e cheiroso. Não é propriamente uma fazenda, mas não deixe de perceber o encanto da Seriema que circula pelos jardins e construções.

Aqui fiz diversas refeições. Posso afirmar que o café da manhã é fantástico e, além disso, saudável! Amei poder comer tapioca, pamonha, mungunzá, cuscus e as deliciosas frutas. Energia garantida para o dia de trabalho! Os almoços e jantares podem ser por sistema de ‘self service’, como falam por aqui ou ‘à la carte’. Sempre boas opções.

O hotel possui uma bela piscina ao ar livre,  com lindos jardins. Há WiFi e estacionamento privativo. Para famílias com crianças, vale saber que há um belo parquinho.

Jardim do Hotel Fazenda Triunfo.

O que mais me encantou, no entanto, foi sentir o cheirinho de canela no ar, pois utilizam aromatizadores e,também, oferecem nos amenities um sabonete feito por eles mesmos com este delicioso perfume.

Os quartos são amplos e possuem, além da cama de casal, um sofá cama que pode ser utilizado para acomodar mais pessoas. Bom colchão e chuveiro, televisor, frigobar de design e ar condicionado, são o básico do conforto, mas poder abrir as janelas e se deparar com uma vegetação exuberante já é de encher os olhos e acalmar a alma. Ah, amei as diversas prateleiras e tomadas, afinal vivemos em tempos de muitos objetos que precisam de energia elétrica.

Apartamento do Hotel Fazenda Triunfo.
O nosso restaurante, aberto ao público, oferece comida regional, traduzindo na gastronomia, a cultura do nosso povo. Havendo alto controle de qualidade e estética de nossos pratos.
Jardins do Hotel Fazenda Triunfo.

Quando estive por lá estava acontecendo a primeira edição de um adorável evento. Daqueles que só de ver, dá vontade de participar. A ‘Rota do Bem Estar’, que deverá ser itinerante, mas deve voltar para cá, pois agradou muito aos participantes. Imagine que cheguei no dia do jantar com show de tango! Mas eles oferecem muito mais, orientação com nutricionista, meditação, caminhadas, palestras sobre bem-viver, yoga, hidroginástica, massagens, tratamentos de estética, reflexologia, etc.  Mais informações, clique aqui.

Intervenções da Rota do Bem Estar, no Hotel Fazenda Triunfo. Areia, PB.
Piscinas do Hotel Fazenda Triunfo.

Que o bom humor sempre vigore.

Mais informações e reservas no Hotel Fazenda Triunfo, clique aqui.

 

Pousada Villa Real e Bambu Brasil Restaurante

Não me hospedei nesta pousada, mas pude apreciar a excelente gastronomia do Bambu Brasil Restaurante, que fica junto à pousada Villa Real. Excelente bom gosto na decoração dos espaços, com a exposição de muitas e belas peças antigas.

O piso e alguns detalhes em ladrilho hidráulico me encantou. O ambiente é muito agradável, com o frescor da noite, típico desta região.

A utilização de materiais inusitados na ornamentação dos espaços atesta a criatividade de seus proprietários. Adorei este lustre de xícaras.

Além da gastronomia regional, apresenta alguns pratos de inspiração internacional, como esta burratta, servida com confit de tomate, toque de tapenade, manjericão e pão de ervas. Provei e aprovei! Também apreciei muito o camarão real.

Este redário é convidativo, oferecido aos hóspedes da pousada Villa Real, e dá um toque de relaxamento ao ambiente.

Mais informações, clique aqui.

 

A Casa do Doce

Essa casa tem a linda história do empreendedorismo feminino. Esther viu sua vida mudar e resolveu empreender. O que era um saber se tornou um negócio. Hoje, além de produzir e vender os doces em Areia, também os comercializa  para diversos restaurantes da Paraíba e outros estados do Nordeste. Em poucos dias ela vai se mudar para uma área própria, triplicando o tamanho da cozinha, possibilitando ampliar a produção, mantendo a qualidade dos doces. Quando perguntei a ela qual o leite utilizado para fazer o famoso doce de leite, ela me respondeu com um sorriso: “De vaca, mesmo, só assim para ter doce bom!”.  Tudo o que ela faz tem qualidade e a preocupação de dinamizar a economia local: “Uso o queijo de uma vizinha, o artesanato de outra, sempre procuro ajudar a mais pessoas…” diz Esther.

Você vai se deliciar com o cheiro, o cenário e, principalmente, com os doces de Esther, que, entre tachos, colher de pau e muita fruta, cria os seus 71 sabores: “me leva na mala”, “macacada”, “vila real”, “baba de moça” e “gergelim”, entre outros mais tradicionais.

A ‘Macacada’, um doce de ‘comer ajoelhado’. Recheio de banana, coco, rapadura e especiarias, envolto em queijo coalho grelhado. Hum….

O ambiente é rústico e acolhedor, cheio de detalhes que captam o olhar do visitante, enquanto o cheirinho de café recém passado envolve a todos.

Mais informações, clique aqui.

 

Engenho Triunfo – Cachaçaria

“A história da Cachaça Triunfo é um misto de empreendedorismo e amor”, assim começa a apresentação desta cachaçaria no site da empresa, o que é encantador! Acredito em tudo que começa por amor.

Assim, tudo inicia em 1994,  uma história recente, quando Antônio Augusto recebeu por herança uma fazenda. “Apesar de não ser filho de nenhum Senhor de Engenho nem ter os conhecimentos necessários para fabricar cachaça, ele tinha um sonho e muita, muita vontade de vencer”.  E assim fez, vendeu a fazenda e comprou uma pequena moenda e um alambique, dando início à Cachaçaria Triunfo.

Maria Júlia,  sua esposa, a quem conheci, é uma empreendedora admirável, mais, uma liderança construtiva, não só nos empreendimentos da família, mas na comunidade de Areia. No engenho, procurou agregar tecnologia e processos para atingir a qualidade desejada. Contou com o conhecimento de Fernando Valadares Novais, conhecido como o “Papa da Cachaça”.

Hoje é bacana ver o sonho alcançado e a família trabalhando unida, tanto no engenho quanto no Hotel Fazenda Triunfo. E a história de superação só agrega valor ao produto e à empresa.

“Com a demanda crescendo, era preciso investir em infraestrutura, máquinas, mas tudo era muito caro, a cada dificuldade Antônio Augusto inventava uma solução: o moinho de carne de sua mãe transformou em uma máquina de tampar, a peça de bico de porco beber água nas pocilgas transformou em envasadora, a centrífuga de sua cunhada transformou em uma máquina de polir as garrafas, o pote de doces de sua sogra transformou em um lindo filtro de cachaça”.

Com  as vendas aumentando, foi possível fazer novos investimentos em máquinas maiores e melhores. Atualmente, a Triunfo vende mais 250 mil garrafas por mês, no Brasil e em outros países.  A empresa gera 69 empregos diretos e mais de 1.000 indiretos.

Cachaça Triunfo, produzida no coração do Brejo Paraibano e exportada para o mundo inteiro.

O Engenho Triunfo recebe cerca de 1500 visitantes por mês, que podem conferir de perto todo o processo de fabricação da Cachaça, degustar as cachaças e os sorvetes de frutas tropicais com leve toque da cachaça, além de comprar os produtos.

Mais informações, clique aqui!

 

Foi um privilégio ter convivido com pessoas maravilhosas, em Areia, durante um intenso e produtivo curso e ter podido conhecer um pouco desta região. Agradeço, Regina Medeiros Amorim, pelo convite.

Espero voltar!

 

Para mais informações, indico alguns bons vídeos:

http://g1.globo.com/globo-news/fernando-gabeira/videos/v/fernando-gabeira-uma-visita-ao-brejo-paraibano/3917575/

http://g1.globo.com/pb/paraiba/bom-dia-pb/videos/v/conheca-mais-da-cidade-de-areia-no-brejo-da-paraiba/2687914/

https://www.youtube.com/watch?v=_b8MSPx1O3E&t=265s

https://www.youtube.com/watch?v=pfJf7jqPRl8&t=172s

 

Como chegar:

A região do Brejo Paraibano está próxima de três capitais (João Pessoa, Natal e Recife) e dista 40 quilômetros de Campina Grande, a segunda maior cidade da Paraíba, e 120 quilômetros da capital do Estado. Assim, desde as capitais ou as principais cidades citadas é possível chegar em até 2 horas em Areia e região.

 

Importante:

O Viajante Maduro visitou Areia por motivo profissional, mas não deixou de aproveitar o tempo livre para conhecer as belezas deste lugar.

A opinião aqui expressa é a nossa verdade! A autoria das fotos é de Ivane Fávero.

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