Chegamos a Malta em um voo da Ryanair, direto de Catânia até a cidade de Luqa, onde fica o aeroporto. Um voo rápido, pouco mais de uma hora, e barato (por volta de 40 euros), mesmo com bagagem de mão (malinha e mochila). Dica: consulte também os voos da Air Malta, algumas vezes podem ser vantajosos.
Logo alugamos um carro, numa superpromoção de 38,00 euros para 5 dias. Mas aí nos demos conta de que faltou pesquisar um detalhe: a mão inglesa! Sim, como Malta foi ocupada pela Inglaterra até 1964, ainda adota a direção pela esquerda.
Bem, o Rômulo e eu saímos nervosos, mas fomos em direção à nossa hospedagem, em uma das três cidades, na pequena Cospicua. Nos hospedamos em uma casa de pedra calcaria, bem característica, com porta colorida e um querido casal de anfitriões, Daniel e Isabel, que nos receberam com uma cerveja local e um biscoito típico.
Logo fomos passear, pois chegamos cedo e nosso check-in na hospedagem só seria à tarde. O primeiro impacto foi positivo, a paisagem composta pelo mar azul e seus canais, com inúmeros barcos brancos, contrastando com a pedra calcária bege e ornamentada pelas portas e balcões coloridos, gera uma imagem de beleza única.
Sim, estamos no meio do Mar Mediterrâneo, em um dos menores e mais populoso país da Europa, com uma superfície de 315,4 km2 e uma população de mais de 516 mil habitantes (estimam 550 mil). A maior das oito ilhas (eles só consideram 3 como povoadas) chama-se Malta. Imaginem só, ela mede 27 km no seu maior comprimento e 14,5 km na sua maior largura!!! Aqui fica a maior parte da atividade económica do país, na capital fortificada, Valetta. A outra ilha é Gozo, um pouco menor ainda. Comino é realmente pequena.
Aqui se fala o Maltês, que lembra muito o árabe e o Inglês, já que foi colônia britânica. Malta faz parte da União Europeia e do Espaço Schengen (espaço sem fronteiras) e adotou o Euro como moeda.
Sua posição estratégica, entre o Oriente e o Ocidente, foi a causa de tantas disputas. Por aqui já passaram quase todas as civilizações. É possível ver a história tangibilizada nos templos megalíticos, nas antigas cidades romanas, nas igrejas medievais, no idioma deixado pelos árabes, no misticismo dos Cavaleiros de Malta, na força e no idioma (também oficial) da ocupação britânica, tudo vibra história em Malta.
A história Malta está escrita bem antes da era cristã. Originalmente, os fenícios, e mais tarde os cartagineses, estabeleceram portos comerciais e assentamentos na ilha.
Durante a Segunda Guerra Púnica (218 a. C), Malta tornou-se parte do Império Romano.
Durante o domínio romano, em 60 d.C., São Paulo naufragou em Malta, tendo permanecido em uma gruta.
Em 533 d. C. Malta tornou-se parte do Império Bizantino e em 870 ficou sob o controle árabe.
A ocupação árabe deixou uma forte marca na vida de Malta, costumes e linguagem.
Os árabes foram expulsos em 1090 por um grupo de Aventureiros normandos sob o comando do conde Roger da Normandia, que havia estabelecido um reino no sul da Itália e Sicília. Malta tornou-se, assim, um apêndice Sicília para 440 anos. Durante esse período, Malta foi vendida e revendida a vários senhores feudais e barões, e foi dominado sucessivamente pelos governantes da Suábia, Aquitaine, Aragão, Castela e Espanha.
Em 1523, uma data-chave na história de Malta, as ilhas foram cedidas por Carlos V de Espanha à Ordem dos ricos e poderosos dos Cavaleiros de São João de Jerusalém.
Nos seguintes 275 anos, esses famosos “Cavaleiros de Malta” fizeram da ilha o seu reino. Eles construíram cidades, palácios, igrejas, jardins, e fortificações e embelezaram a ilha com numerosas obras de arte e cultura.
Em 1565, foi quebrado o cerco de Malta por Suleiman, o Magnífico. O poder dos cavaleiros recusou, no entanto, e seu domínio de Malta foi encerrado por sua rendição a Napoleão em 1798.
O povo de Malta levantou-se contra o domínio francês e, com a ajuda dos Britânicos, os expulsou em 1800.
Em 1814, Malta voluntariamente se tornou parte da o Império Britânico.
Sob o Reino Unido, a ilha tornou-se uma fortaleza militar e naval, a sede do British Frota no Mediterrâneo.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Malta sobreviveu a um cerco nas mãos das forças militares dos alemães e italianos (1940-1943).
Em reconhecimento, o Rei George VI, em 1942, concedeu a Cruz George “para a ilha-fortaleza de Malta – seu povo e defensores”. O presidente Franklin Roosevelt, descrevendo o período da guerra, chamado de Malta “uma pequena chama brilhante na escuridão.”
Malta obteve a independência do Reino Unido em 21 de setembro de 1964.
Atualmente, o turismo é a principal atividade econômica de Malta, sendo que o país recebe, anualmente, impressionantes 2,5 milhões de turistas, contribuindo diretamente com quase 30% do PIB de Malta. Um dos mais elevados impactos da Europa!
Atenção, durante os meses de julho e agosto o país fica superlotado de turistas. Além do turismo, o setor financeiro (paraíso fiscal), de jogos (apostas, cassinos, iGaming) e da produção cinematográfica, são os principais setores econômicos.
As razões desta relevância do turismo são as mesmas que nos atraíram e outras mais: a história milenar com sua arquitetura única, a localização no Mediterrâneo azul e as falésias calcarias, a presença dos Cavaleiros da Ordem de S. João de Jerusalém.
É fácil se locomover entre as ilhas, pois há bons ferryboats que permitem esse transporte, com preços razoáveis (por volta de 2,00 euros). Também há ônibus de transporte público e outros turísticos.
Valeta – a pequena Capital de Malta
A capital de Malta, Valeta, tem apenas 5.730 residentes permanentes. Assim, é considerada a menor capital da Europa. Aqui chegamos de ferryboat, já que estamos hospedados em uma das Três Cidades, do outro lado do canal.
Mas a escolha de hospedagem ‘no outro lado’ foi perfeita, pois permite contemplar melhor a beleza de Valeta.
As casas em pedra calcária, com seus balcões coloridos, as ruas com pedras que sussurram história a cada passo, o movimento de pessoas de todas idades, os maduros despertam mais cedo e se recolhem quando os mais jovens iniciam a jornada noturna.
Valeta é uma perfeita amalgama entre passado e presente, história e vivacidade, patrimônio e juventude.
Apropriadamente cunhada em 2018 como a “Capital Europeia da Cultura”, há muito para ver e fazer nesta cidade espetacular, fundada no século XVI pelos Cavaleiros de São João.
Mas o que mais nos impressionou foi a beleza interna Co-catedral de São João, ricamente ornamentada e, ainda, com duas obras do famoso pintor Caravaggio.
Aproveitamos para passear de ‘trenzinho’, para poder contemplar outros pontos e tivemos a certeza de que vale a pena visitar Malta.
Mdina, a cidade notável
Uma das razões que nos levaram a desejar conhecer Malta foi poder visitar Mdina. Sua história de mais de 4 mil anos, a passagem do Apóstolo São Paulo, em 60 d. C., que aqui viveu depois de naufragar nas ilhas e as imagens da cidade murada nos cativaram.
O Papa Francisco esteve aqui há poucos dias e rezou missa na área onde São Paulo teria residido, uma gruta localizada Fuori le Mura (fora das muralhas da cidade), agora conhecida como Gruta de São Paulo.
Caminhamos lentamente pelas ruelas e contemplamos o vai-e-vem dos turistas e moradores. Admiramos os jovens estudantes com seus professores, todos compenetrados estudando sua história e falando em maltês.
Mdina teve nomes (Melita, inclusive) e títulos diferentes e foi o local de residência de nobres famílias de Malta, por isso a presença de tantos e belos palácios, com arquitetura que mistura diversas influências e culturais, como a medieval e a barroca.
Por muitos séculos, as ordens religiosas se estabeleceram dentro dos recintos de Rabat e os franciscanos, dominicanos e agostinianos ainda se fazem presentes.
Há um bom comércio e boa oferta de restaurantes. Recomendaríamos ficar dois dias por aqui, para poder aproveitar mais e visitar outros atrativos: a Villa Romana (Domus Romana), as catacumbas, a Gruta de São Paulo e as belas igrejas e mosteiros.
Ilha de Gozo
De onde nos encontrávamos na ilha de Malta, nos deslocamos de carro quase atravessando a ilha, pois rodamos em torno de 30 km para chegar no ferryboat e nos deslocarmos para a ilha de Gozo, que faz parte do arquipélago de Malta. O custo é de 15,80 euros por carro e mais 4,65 euros por pessoa (também é possível ir de transporte público ou turístico).
Gozo é a segunda maior ilha do arquipélago. Os habitantes locais a chamam de “ilha dos 10 minutos” porque é possível chegar a qualquer ponto da ilha em poucos minutos, pois ela tem 14 km no seu ponto mais longo e 7 km no seu ponto mais largo.
Ao chegarmos, nos dirigimos para a cidade de Victoria, também conhecida pelos malteses como Rabat, que é o nome da cidade velha. Victoria em uma população de em torno de 10.000 pessoas.
Entramos, então, no coração da cidade de Victoria, na Cittadella (Cidadela), que era conhecida como “O Castelo” e foi, durante muito tempo, o centro das atividades da ilha, e foi fortificada (murada) pelos fenícios e continuou como uma Acrópole importante na época dos romanos. Uma parte da Cidadela foi reconstruído pelos Cavaleiros de São João, entre 1599 e 1603, depois da invasão da cidade pelos otomanos em 1551.
Dentro da Cidadela há uma magnífica Catedral em estilo barroco, construída no século XVII, local onde anteriormente havia um templo romano dedicado a Juno. Também há obras romanas e rastros de antiquíssimos povos daquela misteriosa ilha, da idade neolítica.
Vemos como misteriosa a ilha de Gozo especialmente pelo estupendo sítio arqueológico de “Ggantija (“Torre dos Gigantes”), cujos dois templos foram construídos em 3.600 a 2.500 a. C., o que torna esses templos velhos de mais de 5.500 anos e umas das mais antigas estruturas religiosas humanas do mundo. Por isso, ele é considerado Patrimônio Mundial da UNESCO.
De lá, rodamos em direção a “Xwejni Bay”, que é uma baía com um belo mar à sua frente e que possui uma costa rochosa de calcário que exibe um padrão típico de erosão, cuja combinação com o mar é muito bela. Caminhamos por essa baía e nos encantamos também com o mar batendo nos enormes rochedos dessa baía. Lá vimos grande quantidade de salinas em pequenas quadras, além de piscinas que, dizem, foram construídas pelos romanos à beira do mar.
Enfim, esse dia em Gozo foi, para nós, muito significativo, pois reforça nossa percepção de que o homem há milênios tem sua espiritualidade aflorada, como vimos no sítio da idade da pedra.
Uma boa forma de encerrar nossa passagem por este tão pequeno quanto precioso país.
Observação:
As ilhas de Comino e Cominotto
Estas não chegamos a visitar, mas vale para quem vier com mais tempo ou disposição: Comino e Cominotto são ilhas gémeas em torno da famosa e muito turística Lagoa Azul (Blue Lagoon) de Malta.
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Importante:
O Viajante Maduro viaja como ideal de vida e profissão.
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Esta matéria contou com a colaboração da publicitária Lúcia Fávero Moraes.
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Parabéns pelo excelente trabalho de pesquisa que claramente foi feito para embasar as ideias apresentadas.
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